quinta-feira, 4 de junho de 2009

Informativo PET nº 34 - frente

Recife, 04 de junho de 2009.

Seriam os derivativos realmente trambique?

O mercado de derivativos tem sido bastante discutido no Brasil. Entretanto, o conhecimento da população, e até mesmo de altos dirigentes do governo, acerca desse assunto, é altamente escasso.

O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou numa visita à Turquia que "temos um sistema financeiro sólido. Mas o que descobrimos com a crise é que alguns empresários brasileiros estavam aplicando nos chamados derivativos. Ou seja, já não se contentavam em ganhar o que estavam ganhando e acharam que era possível ganhar um pouco mais, fazendo trambique".

A função do mercado de derivativos, no entanto, contrariamente à declaração do presidente, não é a de obter ganhos financeiros por meios ilícitos. O que se deseja com esse mercado, a princípio, é a diminuição dos riscos de transação dos agentes atuantes. Obviamente, há outras intenções envolvidas como a especulação, mas isso não significa que esses especuladores sejam necessariamente nocivos ao funcionamento do mercado. Além disso, o mercado de derivativos é um mercado regularizado, com normas muito bem definidas.

Esse mercado consiste na negociação de contratos baseados no resultado de ativos reais ou financeiros, assim como nas taxas de juro, câmbio e índices. As operações com derivativos são baseadas em contratos, portanto há compromissos entre compradores e vendedores.

Há quatro principais tipos de derivativos: futuros; opções; swaps; termos. Essa divisão conceitual é feita de acordo com o porte das partes envolvidas no contrato, frequência de ajuste, sistema de garantias, vencimento, etc.

Os agentes envolvidos no mercado de derivativos são os hedgers, os especuladores e os arbitradores. O hedger é aquele que produz fisicamente o produto. Seu único objetivo é minimizar o risco de mercado no preço do seu produto. Os especuladores são agentes que compram e vendem os derivativos com o objetivo de lucrar nas oscilações. Eles são de grande importância para a manutenção da liquidez do mercado. Já o arbitrador lucra tirando vantagens na diferença de preços de um bem que é negociado em mercados diferentes. A atuação do arbitrador surge quando o preço de um ativo nos mercados de derivativos sai da sua trajetória normal, ou esperada. Eles têm a função de manter os preços em linha para diferentes mercados.

A fim de ilustrar a importância da utilização de derivativos no Brasil, há o caso da elevação expressiva da taxa de juros feita em setembro de 1998 pelo Banco Central. Investidores com aplicações prefixadas e empresas com dívidas a taxas flutuantes amargaram enormes perdas que poderiam ter sido evitadas através do mercado de derivativos de taxas de juros. Outro exemplo é o da grande desvalorização da taxa de câmbio ocorrida em 1999, em que o dólar subiu mais de 65% entre 13 de janeiro e o fim desse mesmo mês. Essa desvalorização gerou grandes perdas para importadores e para empresas com dívidas em dólar. Assim como no caso anterior, esses prejuízos também poderiam ter sido minimizados com a utilização do mercado de derivativos.

Apesar de todas essas vantagens, pode-se também citar alguns contra-exemplos ocorridos no Brasil. Imediatamente após o início da crise a Sadia admitiu ter perdido R$ 760 milhões com suas posições em contratos de derivativos futuros e opções cambiais. Outra companhia que sofreu com os derivativos foi a Aracruz Celulose, que perdeu US$ 2 bilhões. Estima-se que cerca de 200 empresas tenham perdido dinheiro com derivativos.

O que se pode afirmar, pois, é que esse mercado já exerce uma atividade internacionalmente reconhecida na economia. Obviamente pode gerar perdas e ganhos, mas tudo indica que quanto mais maduro for esse mercado, maiores serão as tendências de ganho.




Pacelli Luckwü
Membro do PET – Economia

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