sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Aborto X Criminalidade

Essa vai para aqueles que já leram Freakonomics!

Por sinal, pra quem não leu, fica a dica:

O livro Freakonomics - O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta é uma coletânea de estudos do economista Steven Levitt, Ph.D. pelo MIT, em parceria com o jornalista Stephen Dubner. A obra defende teses polêmicas, entre elas a de que a legalização do aborto seria a grande responsável pela redução das taxas de criminalidade em NY. Situações cotidianas são confrontadas pelos autores, e idéias simples, convenientes e confortadoras, tidas como verdadeiras pela sociedade, são postas em dúvida.

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Desigualdade de renda, corrupção policial e sistema judiciário fraco são fatores mais importantes que a pobreza no aumento da criminalidade, mas o aborto contribui para a queda dos índices de crimes, segundo o economista Steven Levitt, professor de economia da Universidade de Chicago (EUA).

Levitt é autor do livro “Freakonomics - o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta”, escrito em parceria com o jornalista Stephen J. Dubner. Publicado em 2005, o livro foi citado pelo governados Sérgio Cabral para justificar a idéia de que a legalização do aborto, principalmente em áreas pobres, reduziria a criminalidade.

Apesar de ter sido informado pelo G1 de que o governador havia usado argumentos do livro para defender o aborto, Levitt não mencionou Sérgio Cabral.

Em “Freakonomics”, o economista diz que os índices de criminalidade em Nova York foram reduzidos nos anos 1990 graças principalmente aos abortos realizados duas décadas antes.

“A idéia é simples: crianças indesejadas têm risco maior de envolvimento em crimes, e a legalização do aborto reduz o número de crianças indesejadas. Portanto, não é difícil ver por que legalizar o aborto reduziria a criminalidade”, disse Levitt em entrevista por e-mail ao G1.

G1 - O sr. ainda acredita que esse tipo de ação é eficaz para a redução dos índices de criminalidade?
Steven Levitt - Tanto a teoria quanto os fatos continuam a sugerir que a legalização do aborto reduziu o crime nos Estados Unidos. A idéia é simples: crianças indesejadas têm risco maior de envolvimento em crimes, e a legalização do aborto reduz o número de crianças indesejadas. Portanto, não é difícil ver por que legalizar o aborto reduziria a criminalidade. Eu devo ressaltar, porém, que crime não é a única ou mais importante preocupação quando se fala em aborto. Se aborto é assassinato, então obviamente sua legalização não é um bom jeito de combater o crime. Se é um direito da mulher escolher (a interrupção da gestação), então legalizar o aborto pode fazer sentido mesmo sem se levar em consideração o impacto na criminalidade.

G1 - Investimentos em educação e sistema de saúde pública não seriam mais eficazes que abortar uma criança?
Levitt - Há algumas evidências de que intervenções feitas cedo na vida de uma criança podem ter um grande impacto. Sou a favor de que se faça tudo o que se pode para que uma criança seja bem-sucedida no futuro. Também há melhores formas do que o aborto para evitar o nascimento de uma criança indesejada, como acesso a políticas de controle de natalidade.

G1 - Na sua opinião, pobreza levará sempre ao crime? Em outras palavras, pobres são predestinados à criminalidade?
Levitt - A ligação entre pobreza e crime é muito mais tênue do que a maioria das pessoas acredita. Registros em vários países mostram que desigualdade de renda é mais importante que pobreza no aumento de crimes. Brasil e Estados Unidos têm altos níveis de desigualdade de renda.

G1 - Sua análise sobre a redução da violência em Nova York devido aos casos de aborto na década de 1970 seria válida se transportada para a realidade de outros países, como o Brasil, por exemplo?
Levitt - Eu acredito que a lição básica serve para o Brasil.

G1 - Desde que seu livro foi publicado pela primeira vez, o sr. já reavaliou alguma vez os conceitos expressos nele?
Levitt - Eu estou sempre aberto para mudar minhas opiniões se as pessoas me mostrarem que estou errado, mas no caso do aborto eu não vi nada que possa mudar minha concepção. Um ponto importante a ressaltar: como eu já havia dito em duas visitas ao Brasil na década de 1990, a política individual mais importante para a redução de crimes no Brasil é o bom funcionamento sistema judiciário criminal, com severas e justas punições a criminosos. Como Ignacio Cano (professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro na área de metodologia das ciências sociais, pós-doutorado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos), Julita Lemgruber (socióloga, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, e ex-ouvidora da polícia e ex-diretora do sistema penitenciário do estado) e outros já apontaram, corrupção e violência policial são crescentes no Brasil. As penas de prisão são muito baixas e desiguais. Controlar a polícia e prisões não é fácil, mas é a chave para baixar a criminalidade.

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