sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Informativo PET nº 36 - frente

Queiram ou não, a China não para

Há pouco mais de um mês, o Financial Times publicou uma reportagem na qual colocava em dúvida a veracidade das estatísticas divulgadas pelo governo chinês. De acordo com o periódico britânico, os dados são fornecidos pelas províncias chinesas e, como tais, demonstram um crescimento desabonado pelo National Bureau of Statistics of China (NBS), órgão estatal responsável pela coleta e publicação dos números referentes à economia, população e sociedade chinesa. Ainda segundo a reportagem, os próprios cidadãos chineses (88%) duvidam do incrível aumento experimentado pelo país num período de seis meses – o PIB chinês teria crescido acima de 7% no período da crise -, como foi constatado numa enquete promovida pela NBS, a qual se viu obrigada a apresentar uma campanha cujo intento é assegurar a credibilidade de suas estatísticas.
A história econômica chinesa moderna pode ser dividida em duas eras: o período pré-Deng e o pós-Deng. Deng Xiao Ping foi o responsável, em 1979, pela instituição do chamado “socialismo de mercado”, cuja reforma econômica com vistas à industrialização e políticas de exportação, à parte o engodo comunista presente, reergueu a atividade agrícola e o debilitado sistema chinês nestes quase 30 anos.
Como todas as nações mundiais, a China também foi afetada pela crise, mas sua recuperação não poderia ter sido mais rápida. A exemplo de diversos países, também lançou mão de um pacote de estímulo fiscal avaliado em pouco mais de 11 trilhões de yuans – algo em torno de US$ 1,7 trilhões – no período de seis meses, além de ter adotado uma política monetária mais branda.
Porém, grande parte da política de incentivo à economia chinesa se baseia no estímulo ao aumento do consumo doméstico, relegando a segundo plano sua principal fonte de renda, as exportações. Contudo, é uma medida que tem mostrado resultado. Dada a diminuição generalizada do consumo mundial, as exportações foram uma das atividades mais afetadas pela crise. Na China não seria diferente, tendo sido registrada uma diminuição de um quarto do volume exportado em
relação a 2008. O movimento chinês entra, portanto, em perfeita consonância com os demais países, apresentando resultados satisfatórios. Somente no primeiro semestre deste ano, as vendas do comércio marcaram alta de 15%, totalizando 5,87 trilhões de yuans (US$ 859,60 bilhões) em relação ao mesmo período de 2008.
A China é hoje a maior economia entre os países que formam o BRIC e terceira mundial, alvo contínuo de investimentos estrangeiros. Dona das maiores reservas monetárias do mundo, investe cerca de um terço desse montante em títulos do governo norte-americano e já se tornou seu maior credor, contabilizando US$ 763,5 bilhões, superando o Japão. Apesar das dúvidas em relação ao crescimento chinês no ano de 2009, seu crescimento de dois dígitos no ano anterior é fato irrefutável.
Sua presença cada vez maior no cenário econômico mundial vem tornando-se cada vez menos surpreendente. O presidente norte-americano, Barack Obama, não poderia estar mais correto ao afirmar que o relacionamento entre os Estados Unidos e a China “vai moldar o século 21”.


Victor Pessoa
Membro do PET – Economia

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