segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Por que os investidores entram em pânico e tomam decisões irracionais?


A Bolsa de Londres estava batendo todos os recordes. As ações subiam tanto que um dos investidores desconfiou: aquilo poderia ser uma bolha, ou seja, um período de otimismo exagerado e insustentável. Mas ele não resistiu e colocou seu dinheiro no mercado. Até que o pior aconteceu: a bolha estourou, e nosso amigo perdeu todo o dinheiro. O ano era 1720 e o investidor ninguém menos que o físico Isaac Newton. Falido e perplexo, o homem que descobriu a lei da gravidade disse: “Consigo calcular os movimentos dos corpos celestes, mas não a loucura dos homens”. Pode parecer discurso de mau perdedor, mas na verdade foi uma grande sacada. Sem saber, Newton estava prevendo a criação de uma nova ciência, cujas descobertas podem ajudar a entender a crise atual: a neuroeconomia, que vasculha a mente humana em busca de explicações para o comportamento dos mercados. Por que até pessoas hiper-racionais, como Newton, acabam tomando decisões irracionais quando o assunto é dinheiro? Como se formam as ondas de pânico, e por que ele é contagioso? A ciência está começando a encontrar possíveis respostas. “No cérebro dos humanos, assim como em outros animais, existem os chamados neurônios-espelho, que são ativados quando você vê uma pessoa fazendo alguma coisa. Em certos casos, se torna irresistível imitar o comportamento dela”, explica o neurologista Armando Rocha, da Fundação Getúlio Vargas. “É um mecanismo de autopreservação. Se você vê animais da sua espécie correndo do fogo, não é muito inteligente ficar parado”, explica o economista Marcos Fernandes, também da FGV. Só que essa reação, fundamental para a sobrevivência na floresta, pode ser letal para o sistema financeiro: se todo mundo corre para o mesmo lado, tirando seu dinheiro do mercado ao mesmo tempo, ele quebra. Com as últimas experiências em laboratório e técnicas de mapeamento do cérebro, já é possível prever as atitudes das pessoas ao lidar com dinheiro. E os resultados são surpreendentes. O melhor exemplo disso é o “ultimatum game”, um jogo que foi criado por psiquiatras para tentar entender a dinâmica dos mercados. Ele funciona assim: o jogador 1 recebe uma determinada quantia em dinheiro e precisa dividi-la com o jogador 2 – que pode aceitar ou rejeitar a oferta do jogador 1. Se ele rejeitar, ninguém ganha nada: ambos os jogadores saem de mãos vazias. As teorias clássicas sobre o comportamento humano prevêem que o jogador 2 vai aceitar qualquer quantia – afinal de contas, ganhar algum dinheiro é melhor do que nada. Só que, na prática, não é bem isso o que acontece. O jogador 2 costuma rejeitar ofertas muito baixas – ele não se importa de ficar sem dinheiro, mas faz questão de prejudicar o adversário ganancioso.


O cérebro em 3 tempos

Veja o que acontece na cabeça das pessoas quando o mercado está subindo, estável ou caindo

Mercado em alta

O tempo está aberto e os machões reinam: pesquisas mostram que os investidores com mais testosterona têm mais lucro – e os mercados sobem mais quando faz sol.

Mercado no auge

Tudo está bem. Mas não por muito tempo. Quando estão felizes, as pessoas utilizam menos informações e pensam menos antes de tomar decisões – uma péssima receita para ganhar dinheiro.

Crise

Como o cérebro é duas vezes mais sensível a perdas do que a ganhos, o investidor entra em desespero – e vende suas ações no ato, mesmo que isso signifique perder dinheiro.

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