terça-feira, 13 de outubro de 2009

A primeira mulher Nobel da Economia

A primeira mulher Nobel da Economia

No rescaldo da crise, prémio da Academia das Ciências sueca recompensa investigação de Elinor Ostrom e Oliver Williamson na área dos sistemas de governação das empresas e da gestão da propriedade comunitária

"Premiar o controlo interno da empresa, numa tentativa de reacção à crise", é a leitura que João César das Neves faz da atribuição do Nobel da Economia a Elinor Ostrom - a primeira mulher a ser distinguida com o galardão - e ao seu colega norte-americano Oliver E. Williamson. Já Braga de Macedo considera que a grande mensagem é a "interdisciplinaridade", de que ambos são grandes defensores. "A mistura entre hierarquia e competência é fundamental, daí que a sua falha tenha espoletado a crise internacional", disse o economista da Universidade Nova.

Elinor Ostrom recebeu a distinção com surpresa e humildade, mas considerando que "entramos numa nova era no reconhecimento da capacidade das mulheres de realizar trabalhos científicos formidáveis". Partilha as 10 milhões de coroas suecas (980 mil euros) com Oliver Williamson.

A economista foi escolhida "por ter demonstrado como a propriedade comum pode ser gerida eficazmente por associações de utilizadores", sublinhou o comité Nobel. Interrogada pelos jornalistas, disse ter "estudado o modo como as populações e os responsáveis governamentais tentam resolver problemas muito complicados", salientando que questões cruciais que se colocam, como as alterações climáticas ou a redução dos stocks de peixes são o resultado "de uma visão de curto prazo em vez de longo prazo".

Já Oliver Williamson foi distinguido pelo trabalho de investigação aos limites das estruturas empresariais. A sua teoria explica que a empresa se impôs como modelo económico dominante porque facilita a gestão de conflitos e reduz os custos graças à hierarquia, melhor do que os mercados, dominados frequentemente por negociações e desacordos. O inconveniente, sublinhado pela teoria da organização de Williamson, é que pode haver um abuso de autoridade. A questão da organização interna das empresas e do bom funcionamento dos mercados foi projectada para a ribalta com a crise económica, por via das questões da responsabilidade, das remunerações e da medição de eficácia. Questões que estão, por exemplo, no centro da polémica acerca dos bónus no mercado financeiro.

Francisco Torres, do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Católica, salienta que os dois galardoados têm vindo a estudar "os mecanismos para além do mercado que sustêm a cooperação entre agentes - associações/grupos e empresas -", e considera que a atribuição do prémio a estas linhas de investigação reflecte "a preocupação com as falhas de mercado que a teoria económica reconhece, mas que estão mais patentes nas duas crises: financeira e climática".

Aurora Teixeira salienta que "a governança económica reflecte uma preocupação pela acção colectiva concertada. Isto é, dá primazia à acção colectiva em vez do indivíduo, daí que tenha uma grande importância no período em que vivemos". A professora da Faculdade de Economia do Porto lembra que, já em 2008, "Paul Krugman recebeu o Nobel numa reacção à crise e às questões levantadas pelos neoclássicos e defendeu que só é possível garantir uma sociedade "ética e mais justa "através da governança económica.

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