Até Machado de Assis, um gênio da literatura brasileira, já se revoltou contra a forma complicada de falar dos economistas. Em uma de suas obras, ele revela a suspeita de que a economia e as finanças usem fases trocadas, que, se ordenadas, mostrarão várias verdades. Veja o trecho:
Há sempre três ou quatro pessoas (principalmente agora) que tratam de cousas financeiras e econômicas, e das causas das cousas, com tal ardor e autoridade que me oprimem. É, então, que leio algum jornal, se o levo, ou rôo as unhas — vício indispensável; mas antes vicioso que ignorante. Quando não tenho jornal, nem unhas, atiro-me às tabuletas. Miro ostensivamente as tabuletas, como quem estuda o comércio e a indústria… Foi assim que, um dia, há anos, não me lembro em que loja, nem em que rua, achei uma tabuleta que dizia: Ao Planeta do Destino. Intencionalmente obscuro, este título era a nova edição da esfinge. Pensei nele, estudei-o, e não podia dar com o sentido, até que me lembrou virá-lo do avesso: Ao Destino do Planeta. Vi logo que, assim virado, tinha mais senso; porque, em suma, pode-se admitir um destino ao planeta em que pisamos. Talvez a ciência econômica e financeira seja isso mesmo, o avesso do que dizem os discutidores de bonds. Quantas verdades escondidas em frases trocadas! Quando fiz esta reflexão, exultei. Grande consolação é persuadir-se um homem de que os outros são asnos”.
(Machado de Assis. Obras completas, vol. III. Nova Aguilar: Rio de Janeiro, 1994, p.592.)
Então, da próxima vez que não compreender o que um economista disser, tente apenas inverter as frases. E fique tranquilo: lembre-se de que Machado de Assis também não entendia.
http://economiaclara.wordpress.com
Gustavo Franco tem alguns livros sobre economia dentro da literatura! Acho que o último é sobre Machado de Assis...vale a pena dar uma conferida!
ResponderExcluirbeeijo