quinta-feira, 29 de abril de 2010

Consumidores exigem alimentos mais saudáveis


Com o aumento da preocupação com a saúde, o mercado consumidor passou a exigir diferentes produtos, alimentos com menos calorias, menos sódio e que fossem mais saudáveis de maneira geral. Esses produtos nunca haviam sido alvo de grande atenção das grandes empresas do ramo alimentício, nunca foram os mais produzidos nem eram os que mais geravam mais lucros. Com a mudança de mentalidade de boa parte dos clientes, essas grandes corporações viram a necessidade de acompanhar o processo de perto, ou perder suas fatias de mercado.
Um artigo no site da revista Exame fala um pouco sobre o assunto.

Segue abaixo:

A verdadeira Pepsi light
Alçada à posição de inimiga número 1 da saúde pública, a indústria do junk food precisa se reinventar. E a Pepsico quer mostrar o caminho

Por Felipe Carneiro | 12.04.2010 | 10h58

Esqueça a indústria do tabaco. Com altíssimos impostos, imagens de pessoas morrendo impressas nos maços, veto a propagandas, proibição de seu consumo em lugares fechados e muita informação a respeito dos malefícios da nicotina e do alcatrão, os governos conseguiram transformar o ato de fumar em um hábito abertamente reprovado pela sociedade em geral. Missão cumprida - ou pelo menos quase. Sendo assim, era preciso escolher um novo inimigo público número 1 da saúde pública. E a escolha das autoridades e das ONGs de todo o mundo recaiu sobre a chamada indústria do junk food, responsável pela produção e pela venda de qualquer coisa com alto teor de gordura, sódio e açúcar. Há poucas semanas, a primeiradama americana, Michelle Obama, declarou guerra às batatinhas e aos refrigerantes ao lançar a campanha contra a obesidade infantil "Let's move!" ("Vamos nos mexer!", em português) e ao pedir às empresas do setor que tirem seus produtos das escolas - uma em cada três crianças nos Estados Unidos está acima do peso. Várias ONGs na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos usam seus recursos para publicar anúncios anti-junk food em jornais e outdoors, numa tática similar à usada contra o cigarro. Também a exemplo do que foi feito com o tabaco, alguns estados americanos estudam criar um imposto para bebidas com excesso de açúcar - refrigerantes, basicamente -, uma forma de aumentar a arrecadação e desestimular o consumo do produto.

COMO SEMPRE ACONTECE, parte das companhias se recusa a aceitar a nova realidade, entoando o discurso de que "só estamos oferecendo o que o consumidor quer". Outras tentam se adaptar aos novos tempos. É o caso da Pepsico, segunda maior empresa de bebidas e alimentos do mundo. No dia 22 de março, durante a reunião anual de investidores da empresa, a presidente Indra Nooyi anunciou metas de melhoria nutricional de seus produtos, válidas para todas as marcas: cortar 25% do sódio (sal, basicamente) de cada porção até 2015 e diminuir o açúcar em 25% e as gorduras saturadas em 15% até 2020. Ao mesmo tempo, Indra quer ver as receitas vindas da linha good-for-you (sucos e alimentos à base de grãos, em contraste com a linha fun-for-you, formada por refrigerantes e salgadinhos), hoje na casa dos 10 bilhões de dólares, triplicar nos próximos dez anos. "Precisamos ser vistos como uma das empresas- símbolo da primeira metade do século 21, um modelo na condução de negócios no mundo moderno", disse Indra durante o evento.

As metas apresentadas em março são mais um passo da Pepsico no caminho estratégico iniciado em 2000, quando venceu uma disputa com a Coca-Cola e com a Danone para comprar a Quaker Oats. Por 13,4 bilhões de dólares, a Pepsico incorporou a seu portfó lio diversas marcas de cereais e a Gatorade, marca de bebidas isotônicas do na de 80% desse segmento no mercado americano. Em seguida, a gordura trans - um dos grandes vilões recentes da indústria de alimentos - foi sendo gradativamente eliminada de seus produtos. Em 2007, os salgadinhos perderam 50% das gorduras saturadas com a substituição, no processo de fritura, do óleo hidrogenado pelo de girassol. No ano seguinte, a empresa deu seu passo mais significativo: criou o cargo de vice-presidente mundial de pesquisa e desenvolvimento e o entregou ao indiano Mehmood Khan, um respeitado médico endocrinologista especialista em nutrição e diabetes.

Sob a supervisão de Khan, diversos centros de estudos foram abertos em todo o mundo, cada um deles especializado em determinada linha de produto - no Brasil, em parceria com a Embrapa, a Pepsico estuda sementes de trigo, milho e batata com mais ferro e vitaminas. Desde então, a conquista mais notável aconteceu no Texas, onde a empresa desenvolveu um sal que a boca absorve com mais facilidade, o que permite a redução de 25% de seu uso nas batatinhas para obter o mesmo sabor. "Pesquisas mostram que as pessoas estão dispostas a escolher os alimentos mais saudáveis desde que não sintam que estão perdendo nada em questão de sabor", disse Khan a EXAME. Foi também sob seu comando que a Pepsico descobriu uma maneira de usar em larga escala a estévia, popular arbusto sulamericano utilizado como adoçante com zero caloria, ainda em fase de testes nos produtos da casa.

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