
A existência de poucas empresas no setor de aviação permite uma prática chamada discriminação de preços. Nos aviões, há uma divisão entre primeira classe e classe econômica. Os que escolhem a primeira têm direito a mais espaço e melhores serviços. Ao restante fica um nível muito mais baixo de atenção, com poltronas que obrigam o passageiro a passar todo o trajeto praticamente imóvel. É exatamente essa diferenciação brutal que leva os abonados a aceitarem pagar muito mais para fazer o mesmo trajeto.
O autor do livro Microeconomia: princípios básicos, Hal Varian, explica que essa prática é antiga. Ele apresenta o seguinte comentário sobre os preços das passagens de trens, escrito por Emile Dupuit, um economista francês do século XIX:
"Não é por causa de uns poucos milhares de francos que teriam de ser gastos para colocar teto nos vagões de terceira classe ou acolchoar-lhes os assentos que uma ou outra empresa tem vagões abertos e com assentos de madeira… O que as empresas querem evitar é que os passageiros que podem pagar a tarifa de segunda classe viajem na terceira; eles atingem os pobres não porque queiram infligir-lhes mal, mas sim para amedrontar os ricos… E é também pelo mesmo motivo que as empresas, após serem cruéis com os passageiros da terceira classe e mesquinhos com os da segunda, tornam-se generosos no trato com os clientes da primeira classe. Depois de recusar aos pobres o necessário, elas concedem aos ricos o supérfluo”.
Quando há concentração do serviço em poucas empresas, como ocorre com a aviação brasileira, elas vão ganhar mais se forem capazes de diferenciar os públicos. Assim, cobram preços altos de quem pode pagar por eles e mais baixos do restante. Uma forma de fazer isso é oferecendo produtos de qualidades diferentes. A mesma explicação serve, por exemplo, para as companhias que oferecem voos mais baratos em horários impróprios, como de madrugada. Alguém que viaja a trabalho dificilmente vai optar por eles. Esses voos, em geral, são utilizados para lazer. Quem tem uma reunião de negócios dificilmente vai desistir pelo preço, mas quem está a passeio deve ser muito influenciado pela tarifa baixa.
Há um ponto positivo na discriminação de preços: se não houvesse essa possibilidade, os empresários poderiam optar por atingir apenas o público de renda maior. Os aviões teriam o conforto necessário, os horários seriam apropriados, mas os preços seriam altos demais para muitas pessoas que hoje recorrem às viagens aéreas.
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