sábado, 20 de março de 2010

Informativo PET


15 anos de estabilização econômica: Por que o Plano Real deu certo?

Após sucessivos planos de estabilização ao longo da década de oitenta e início da década de 90, o Brasil parece, felizmente, comemorar sossegado a estabilização duramente conquistada. Os Planos Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989) e Collor (1990) representam as principais tentativas, que, apesar de terem sido fracassadas, ao menos serviram de inspiração e lição para cada plano que se seguiu. Sem pacotes, congelamentos, confiscos, tablitas: a fórmula de sucesso do Plano Real foi inédita na história econômica brasileira.

No dia 1º de julho de 1994 começaram a circular no país as primeiras cédulas do Real, moeda que por ora substituía o Cruzeiro Real. A concepção básica parte da proposta de André Lara Resende e Pérsio Arida em 1984. Entretanto, importantes modificações foram feitas até seu efetivo lançamento em 1994 e se constituía em três fases: ajuste fiscal, desindexação (através da criação da Unidade Real de Valor) e âncora nominal (que acabou por se firmar como âncora cambial). Mesmo após atravessar oito crises econômicas - México (1995), Ásia (1997-1998), Rússia (1999), Apagão energético (1999), Crise Argentina (2001), 11 de setembro (2001), Eleição de Lula (2002) e a crise financeira global (2008) a moeda vem se mantendo estável. Mas, por que o Plano Real deu certo?

Inicialmente, a eficácia da âncora cambial foi garantida pelo elevado patamar de reservas internacionais e pela abertura comercial que vinha sendo implementada desde o início da década de 90, mas que estava em ritmo de aceleração. Além disso, a utilização da URV ao invés da desindexação via congelamento de preços provou ser muito mais eficiente, tendo em vista que a população já estava adaptada a situações de congelamento, a ponto de usar o “jeitinho brasileiro” para burlar o sistema. Por fim, a manutenção de altas taxa de juros tornou-se mais uma âncora para os preços, ainda que tenha provocado sérias consequências para o crescimento econômico no período 1995-1998, além de ter aumentado os encargos com a dívida externa no período. Ao mesmo tempo em que ajudou na execução do plano, as altas taxas de juros também foram responsáveis pela entrada maciça de capital estrangeiro para especulação a curto prazo. Como resultado, a moeda brasileira manteve-se sobrevalorizada, sacrificando o setor exportador. A percepção de continuidade com FHC e existência de apoio político do Congresso certamente figuram entre as razões do sucesso do Real.

Quinze anos após a criação do engenhoso plano que mudaria a história econômica do Brasil, tem-se muito a comemorar, mas também muito a lamentar. A preocupação (excessiva?) com a inflação nesses 15 anos obrigou que o país mantivesse a maior taxa de juros real do mundo, sem que fosse observada grande mudança no padrão dos gastos públicos. A excessiva carga tributária retarda o crescimento do país ao passo que importantes reformas ainda são travadas pela burocracia (política?) pública. A péssima distribuição de renda e o desempenho lamentável da educação básica também são herança da falta de investimento público. Além disso, um grave vício presente desde os primórdios de nossa história impede o enfrentamento direto de nossos problemas: a agenda política.

Finalmente, depois da prova de fogo em que se constituiu a crise econômica global 2008/2009, estamos certos de que os tempos são outros. Um país mais sólido, portanto, requer também instituições mais sólidas. É hora de mudar e reformar o que for preciso. Uma edição do “Plano Caindo na Real” seria muito bem vinda e traria consequências econômicas muito benéficas para as próximas décadas. Isso se a agenda política permitir. Fica a dica.


Synthia Santana
Ex-Membro do PET-Economia

Um comentário:

Unknown disse...

Gente, faltou dizer que esse texto foi escrito em outubro do ano passado :)